A inauguração da Refinaria de Cabinda representa um marco estratégico para Angola no plano energético e económico. Contudo, o seu impacto mais transformador pode residir na vida das mulheres. Este projeto não é apenas uma infraestrutura industrial; é também uma plataforma de oportunidades socioeconómicas e de inclusão num setor que, até hoje, permanece maioritariamente masculino.
Em Angola, apenas cerca de 9 por cento das profissionais nas áreas de engenharia e tecnologia são mulheres. No setor industrial, a discrepância é ainda mais evidente: apenas 1 por cento da força de trabalho feminina encontra-se empregada. Estes números revelam uma realidade de exclusão, mas também uma margem enorme para crescimento. Ao mesmo tempo, as mulheres representam quase metade da força de trabalho nacional (49,9 por cento) e destacam-se no empreendedorismo, sendo responsáveis por 35 por cento dos negócios no país – uma das taxas mais elevadas do mundo. Este contraste entre liderança no comércio e sub-representação na indústria mostra que o talento existe, mas precisa de portas abertas.
A Refinaria de Cabinda abre precisamente essa porta. A procura de mão de obra especializada, o investimento em programas de capacitação e a necessidade de competências técnicas criam um ambiente propício para a entrada de jovens engenheiras, técnicas e cientistas. A aposta em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) assume-se como crucial para reduzir desigualdades e formar uma nova geração de profissionais angolanas capazes de responder aos desafios de uma indústria em rápida modernização.
Mas o impacto não se resume ao plano técnico. O acesso das mulheres a empregos qualificados neste setor significa independência económica, mobilidade social e maior poder de decisão. Cada vaga ocupada por uma engenheira ou técnica representa uma quebra no ciclo de desigualdade que mantém muitas mulheres confinadas ao trabalho informal ou ao setor doméstico não remunerado, onde dedicam, em média, mais de cinco horas por dia. Ao entrar no setor petrolífero e de refinação, as mulheres ganham não apenas salário, mas também prestígio, experiência e possibilidades de liderança.
Para a província de Cabinda, este impacto é ainda mais significativo. A presença feminina em funções técnicas e de gestão na refinaria fortalece a coesão social, inspira novas gerações e transforma a perceção do papel da mulher numa região muitas vezes marcada pela exclusão. Mais do que criar empregos, a refinaria cria símbolos: mulheres de capacete, engenheiras de processos, líderes de equipas, empresárias fornecedoras. Cada uma delas prova que a igualdade de género não é um ideal distante, mas uma realidade possível.
A Refinaria de Cabinda tem, portanto, a capacidade de ser lembrada como um marco de transição não apenas energética, mas também social. Um marco em que as mulheres angolanas encontram finalmente espaço no coração da indústria, provando que o futuro do país depende da sua energia, do seu talento e da sua força transformadora.
