Mulheres da Argélia na engenharia

Quando pensamos em países que mais formam engenheiras no mundo, a primeira aposta de muitos recairia sobre nações conhecidas por seus avanços tecnológicos ou por políticas de igualdade de gênero consolidadas. Porém, o ranking global guarda uma surpresa. Segundo o relatório The Race against Time for Smarter Development, publicado pela Unesco em fevereiro de 2021, a Argélia ocupa o topo, ao lado de Benim e Brunei, como os países com maior proporção de mulheres na engenharia.

Os números impressionam. Benim lidera com 54,6% de mulheres engenheiras, seguido de perto por Brunei com 52,3% e Argélia com 48,5%. No caso argelino, quase metade dos graduados em engenharia são mulheres, dado que contrasta fortemente com a média global, onde as mulheres representam cerca de 28% dos profissionais de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).

Especialistas apontam que na Argélia há uma combinação de fatores históricos, culturais e políticos que ajudam a explicar o fenômeno. Desde a independência em 1962, o país investiu fortemente na educação feminina e garantiu o acesso gratuito ao ensino superior, incentivando a participação das mulheres em áreas técnicas e científicas consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional. Além disso, a engenharia é socialmente valorizada, o que atrai jovens mulheres para a profissão.

No Benim e em Brunei, contextos diferentes levaram a resultados semelhantes. No Benim, a engenharia é associada a oportunidades de emprego bem remuneradas e à mobilidade social, especialmente nos setores de energia e infraestrutura. Brunei combina investimentos robustos em educação com políticas de incentivo à diversidade de gênero em áreas tecnológicas.

Em Angola, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar números tão expressivos, embora já existam avanços notáveis. Iniciativas como as da SMET, que promove formações, mentorias e oportunidades para jovens mulheres na área técnica e de engenharia, mostram que é possível mudar o cenário. Cada vez mais angolanas estão ingressando em cursos de engenharia e em setores como energia, tecnologia e construção, fortalecendo o papel feminino no desenvolvimento econômico e industrial do país.

O dado da Unesco serve de lembrete de que a presença feminina em setores de alta especialização não é apenas uma questão de igualdade de gênero, mas também de estratégia de crescimento e inovação. Equipes diversas têm mais capacidade de gerar soluções criativas e atender às necessidades reais da sociedade.

Apesar das altas taxas de formandas nos países líderes, ainda existem barreiras para que as engenheiras ascendam a cargos de liderança e encontrem ambientes livres de discriminação. No entanto, exemplos como o da Argélia inspiram outras nações, inclusive Angola, a investir na educação técnica feminina como motor de transformação social e econômica.

Com a demanda crescente por profissionais qualificados para enfrentar desafios globais, desde energias renováveis até infraestrutura sustentável, aumentar a participação das mulheres na engenharia é uma necessidade prática e estratégica. Países que, como a Argélia, conseguem atrair e formar um grande número de engenheiras estão mais bem posicionados para inovar e prosperar, e Angola tem potencial para seguir este caminho com o apoio de iniciativas como as da SMET.